Psicologia e Educação

"Este texto marca a inauguração de um espaço para criticarmos, nos incomodarmos e sairmos da rotina alienante de trabalho, compras e televisão. Sinto que haverão muitas coisas por vir, este texto trata da escolha de se tornar professor e os desafios enfrentados todos os dias para se manter motivado a exercer essa atividade, cabe nos lembrarmos a todo instante que a posição de professor e aluno é algo intercambiável e não restrito as salas de aula, sempre que alguém estiver ensinando e outro aprendendo, lá se dará uma relação de ajuda única e indispensável para o desenvolvimento de indivíduos cada vez mais conscientes de si, do outro e de suas responsabilidades. Boa leitura!" - Guilherme P. Affonso

O Professor, A Escolha, A Motivação E EU
Por: Leonardo P. Lima. (Psicologia e Educação)


Quando sabemos que haverá uma palestra sobre motivação, ou que veremos um filme, ou leremos um texto, é comum pensarmos que estes terão grandes frases de impacto, uma cena marcante que mudará quem sou e minha vida, especialmente se for um filme de Hollywood, e ainda mais se for baseado em fatos reais, não que isso não possa ocorrer, e até ocorre, contudo, o que precisamos ter em mente é que o processo de motivação passa diretamente pelo processo de autoconhecimento, por um processo de revisitação.

Revisitar os capítulos de nossas vidas, quais nossas escolhas e o que nos levou a fazê-las. Procurar entender porque estou onde estou e qual o sentido disto para mim.

“– Bem, sou professor! Porque escolhi trabalhar como educador? – há muitos anos atrás era um desejo, talvez a ‘única’ opção”.

Essa é uma profissão pouco valorizada em nosso país. O estresse de trabalhar diretamente com pessoas, não é recompensado pelos baixos salários, sendo assim, se torna necessário trabalhar mais, ter mais salas, mais alunos, mais jovens, crianças e adultos, o que eleva o nível de estresse, o que nos leva mais de uma vez há terminar o dia com o questionamento: “Porque escolhi ser professor?”.

Entender essa escolha, qual o motivo da sua escolha, revisitar essa página, é importante e fundamental para que possamos entender o que nos motivará.

O sonho de transferir o conhecimento, de ajudar a sociedade a crescer, evoluir, acreditar que a educação libertará os alunos, levando-os ao futuro, ao sucesso profissional... ou ainda, ter uma profissão que me dê segurança, estabilidade... Essas são algumas razões, mas os reais motivos, os que realmente nos farão sentido são os nossos próprios, nossas razões, nossos sonhos, mas para isso, precisamos conhecê-los.

Chegamos até aqui com uma proposta de reflexão, individual, que pode levar – e esperemos, você e eu, que leve – algum tempo para ser respondida: “Qual a minha razão para ser educador?” – a resposta não precisa ser conclusiva, mas, tem por objetivo fazer entender quais caminhos te trouxeram aqui.

Como tem construído o sujeito que és?

Não é dos exercícios o mais fácil, estamos cheio de afazeres sociais, pessoais, profissionais, de redes sociais, computadores e celulares, e o ideal dessa época hipermoderna é não pensar, antes, reproduzir, repetir, apertar o Ctrl+C e o Ctrl+V. É a lógica capitalista, tenha uma profissão, trabalhe, case, gaste, pague, é a nova tríade, “sexo, drogas e credit card”.

Conseguir estabelecer boas relações consigo é fundamental. E estão aí os autores de livros de autoajuda faturando, porque oferecem receitas rápidas e mágicas: “Em apenas 10 lições práticas entre em contato com o seu EU”.

O ser humano não se resume a tão pouco e o encontro consigo, é um processo de desenvolvimento que se dá por toda vida, em todas as fases, e sempre com suas peculiaridades.

O ser humano é dinâmico, muda, se adapta, evolui, transforma, não apenas o mundo a sua volta, mas também e principalmente o seu mundo interior, mundo, que muitas vezes é esquecido e renegado pelos problemas do cotidiano, do exterior, mas que nem por isso deixa de existir, antes, nos obriga de tempos em tempos a revisitá-lo. E é exatamente aí que estão às causas de tantos casos de depressão, tantos casos de mudança de profissão: O afastamento de si.

O desgaste sofrido em sala de aula é afetivo, mental e físico, se o professor não souber dosar, separar-se do aluno e da dinâmica da sala, entendendo exatamente qual o seu papel, a coisa se complica e o ensino se perde.

Professores: Quais os seus papéis? Educar? Passar o conteúdo obrigatório e o resto tanto faz?!! Dar afeto ao seu aluno?

A resposta não é e não poderia ser conclusiva, antes, é um conjunto de tudo isso e mais uma soma. É necessário compreender qual o seu papel, qual a sua função. E determinar a sua atuação mediante aquele aluno que se apresenta a sua frente, mediante aquela sala que lhe causa irritação, sim, professores se irritam, são humanos, se cansam, não são os super-heróis dos filmes, não são seres sem afeto, sem humanidade, são pessoas simplesmente.

Professores encarem seus alunos como são e a si mesmo como são, pessoas diferentes, grupos diferentes, por tanto, diferentes métodos, diferentes formas de lidar com a demanda do dia-a-dia são necessárias, e reconhecer seus limites, é mais um ponto fundamental.

A reflexão que propomos nesse momento, visa levar, você professor, a se redescobrir enquanto pessoa, humano em sala, circundado por outros humanos que exigem aprender, exigem disciplina, exigem ser educados para a vida. Enquanto que por outro lado, você precisa reconhecer quais as suas exigências e qual o seu papel. Observar-se é escolher por si, é como temos falado até aqui, um exercício para toda a vida, o ser “humano é único, vivo e real” e necessita saber-se, para entender qual o seu papel e a melhor maneira para desenvolvê-lo.

Portanto, a motivação não está no texto e nem no filme, mas na vida vivida e aprendida, nas experiências dentro e fora de sala, a motivação está em si e em saber-se.

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